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O que se pode comer?

agosto 31, 2007

Qual o significado da declaração “tudo o que se move, e vive, ser-vos-á para alimento”? (Gn 9:3)
Por Alberto R. Timm
Algumas pessoas encaram essa declaração divina a Noé, após o dilúvio, como autorização ao consumo, sem quaisquer restrições, de toda espécie de animais limpos e imundos. Mas essa interpretação  não  é  sancionada  pelas normas e práticas alimentares encontradas nas Escrituras.
A distinção entre animais “limpos” e “imundos” já era conhecida por Noé antes do Dilúvio,  pois o próprio Deus havia feito essa distinção ao mencionar os animais a  serem  preservados na Arca (ver Gn 7:2 e 8). Após sair da Arca, Noé ofereceu holocaustos ao Senhor exclusivamente “de animais limpos e de aves limpas” (Gn 8:20). Embora animais limpos fossem sacrificados ao Senhor desde a queda dos nossos primeiros pais (Gn 3:21 e 44), foi somente após o Dilúvio que o consumo de alimentos cárneos foi permitido, pois grande parte dos vegetais havia sido destruída (ver Gn 1:29; 9:1-6).
Se  a  intenção  em  Gênesis 9:3 fosse eliminar toda e qualquer distinção entre animais limpos e imundos, isso certamente apareceria  nas  discussões  bíblicas posteriores sobre o assunto.  Isso, porém, não ocorre.  Mesmo se Gênesis 9:3 houvesse liberado temporariamente o consumo  de  animais  imundos,  o  que  não é  o  caso,  essa  hipotética   permissão  acabaria  sendo  desfeita  eventualmente  pelas  leis  de  saúde registradas em Levítico 11:1-31,  Deuteronômio 14:3-21  e outros textos bíblicos.
A própria determinação divina de preservar na Arca “sete pares” de  cada  espécie  de  animais limpos e apenas “um par” dos animais imundos (Gn 7:2) sugere que somente os animais limpos haveriam de ser oferecidos em sacrifício e consumidos como alimento. Como dos animais imundos foi preservado apenas um casal de cada espécie, bastaria que Noé imolasse  o  macho  ou  a  fêmea  de  um  casal que ainda  não  havia  se  reproduzido  para  acabar extinguindo definitivamente a respectiva espécie.
Devemos ser cautelosos na interpretação de “tudo o que se move, e vive”, para não acabarmos incluindo o próprio homem entre os alimentos cárneos divinamente sancionados, pois este também “se move, e vive”.  Portanto, a expressão é uma mera generalização (semelhante à expressão “todo o mundo”, usada em português), que não desfez a distinção entre animais limpos e imundos já conhecida naquela época. Assim, após o dilúvio o homem poderia se alimentar também de animais limpos, em acréscimo aos vegetais que já vinham sendo consumidos desde a Criação (Gn 1:29).

Fonte: Sinais dos Tempos, novembro/dezembro de 1999. p. 29 (usado com permissão)