* Baseado e adaptado da obra de CS Lewis
Estamos no Nada. Não existe céu, não existe luz. Não há vento, não há calor. Tudo é vazio, sem forma e frio. Enquanto ainda tentamos entender o que é o Nada, sentimos que algo acontece. Uma melodia começa a tomar conta do ambiente. A mais bela e perfeita Voz inicia a mais bela e perfeita canção. Com crescente expectativa, observamos maravilhados a sonoridade se tornar cada vez mais atuante.
De repente, olhamos para o alto. É possível enxergar, de uma hora para outra, milhões de pontinhos cintilantes por todo horizonte. E qual é nossa surpresa ao sentir uma brisa leve e refrescante que vem de encontro à nossa pele. Mas a Voz continua a entoar o seu canto. Agora podemos distinguir um céu acima de nossas cabeças, que vai mudando de cor: de branco para rosa, de rosa para dourado, até que – num brado mais forte na canção da Voz – o sol nasce, radiante!
Com os primeiros raios de luz solar, já nos é possível ver os rios que cortam o vale onde estamos. A paisagem antes plana, gélida e sólida dá lugar a agradáveis montes e planícies. Nesse tempo, a Voz começa uma canção mais ritmada. Doce e sussurrante, quase como um convite. E a medida que os sons da melodia se espalham pelas rochas, pela terra e pelas águas; os vales, os campos e os rios se enchem de capim, de ervas e de plantas. Tudo brota como numa onda ditada pelo ritmo cativante e orquestrado da Voz. Um instante de descuido e podemos ver os galhos das árvores balançando ao sabor do vento.
Mais uma mudança de cadência. A Voz agora parece provocar uma ebulição. Tal qual uma panela com água para ferver, tudo surge com a canção irresistível da Voz! Da terra e da água aparecem bichos das mais variadas espécies. De uma cova sai toupeiras, descendo o vale cães a latir, abelhas começam suas coletas nas flores…
A Voz vai se tornando menos perceptível, pois por todo lugar havia um coaxar, um mugido, um grunhido. A Terra está quase pronta, mas falta ainda a obra-prima. Foi então que a Voz ditou: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. E não mais da voz do Criador surgia vida, mas de Suas próprias mãos.