Se há algo comum em todas as crenças, isto é o fim do mundo. Todas crêem que em algum momento o planeta onde vivemos, ou ao menos o nosso modo de vida, chegará ao seu ocaso. As formas como este processo se dará são completamente diferentes – e às vezes paradoxais – dependendo do credo, mas todos nós compartilhamos da consciência de que nossa raça não estará aqui pra sempre.
Nenhuma outra indústria captou isso tão bem como Hollywood. Desde os primórdios da cinematografia que estúdios de cinema investem em vender filmes aproveitando-se do medo e do fascínio que o fim do mundo causa. De Steven Spielberg (Impacto Profundo, Guerra dos Mundos) a Alex Proyas (Presságio, Eu, Robô) muitos diretores já enveredaram por este tema e embolsaram seus dólares com o resultado da audiência.
Porém, podemos dizer sem perigo de sermos injustos que o maior ícone pop do cinema do fim do mundo é o alemão Roland Emmerich. Seus três filmes mais importantes, todos arrasa-quarteirões de bilheteria, falavam do fim do mundo, cada um abordando uma causa diferente. O primeiro, Independence Day, tratava de uma invasão alienígena. O segundo, O Dia Depois de Amanhã, mostrava as conseqüência da degradação ambiental infligida pelos humanos ao planeta. Agora, seu ultimo e mais audacioso projeto, ainda em cartaz, mostra de uma hecatombe tendo profecias apocalípticas como pano de fundo. Estou falando de 2012 (2012, EUA, 2009).
Pausa para um outro assunto: não importa o quanto a ciência avance, não importa o quanto lendas e mais lendas sejam desmascaradas, não importa o quanto tenhamos acesso quase irrestrito a todo tipo de informação, não importa que estejamos em pleno século 21, uma coisa parece não mudar nunca: sempre teremos pessoas dispostas a acreditar nos maiores absurdos propagados e nas mais malucas teorias.
Lembro-me muito bem, na época do plebiscito para consultar a população sobre a possibilidade de mudança do sistema governamental brasileiro, quando se espalhou no colégio em que eu estudava a teoria de que se a monarquia voltasse a ser o sistema de governo no Brasil, os cristãos voltariam a ser perseguidos e então viria o fim. Eu era uma criança quando esta notícia veio à tona e lembro de ter ficado muito assustado, principalmente porque meu pai estava defendendo a monarquia numa simulação de debate feita no auditório do colégio.
Em tempos mais recentes, Dan Brown (O Código Da Vinci) misturou fatos e ficção de forma tão convincente que muitos cristãos devotos começaram a se perguntar se Jesus Cristo não teria talvez casado com Maria Madalena. Na ocasião, pastores adventistas, dentre eles Rodrigo Silva, se viram obrigados a fazer uma série de palestras mostrando “por A + B” que tudo não se tratava de inventividade inútil da indústria do entretenimento.
Eu queria acreditar que “gato escaldado tem medo de água fria”, mas parece que não. 2012 provocou uma nova onda de dúvidas e questionamentos e a IASD já se antecipou a ela criando o site www.ofimdomundo.com.br (visite, é muito legal descontados os exageros), porém, o que assusta é que 2012 não chega aos pés das pretensões de O Código Da Vinci.
Antes de mais nada, 2012 é um filme divertidíssimo. Em segundo lugar…..bom…..não existe “em segundo lugar”. O filme não tem mais nada além de diversão. Não é inteligente, não é verossímil, não é genial, é somente isto: divertido, e pronto.
A história se baseia na profecia maia de que o mundo acabaria em 2012. Na película, um cientista descobriu mudanças na temperatura da crosta terrestre que causariam uma catástrofe em nível planetário. Aqui cabem algumas observações a este respeito:
1 – embora a catástrofe aconteça realmente no ano de 2012, o filme não especifica data (o calendário maia destaca o fim do mundo para o dia 21 de dezembro daquele ano), o que enfraquece a teoria de que Emmerich estaria pregando a doutrina Maia.
2 – Emmerich não quis fazer um filme sobre a doutrina maia do fim do mundo. Ele queria apenas um filme de apocalipse em que ele pudesse fazer os efeitos especiais mais ambiciosos de sua carreira. O calendário Maia era apenas o argumento dramático, a desculpa pra causar frisson, enfim, propaganda. Tanto que os maias são citados pouquíssimas vezes no filme e de maneira muito vaga.
3 – além dos maias, o filme faz menção a outras fontes que previram o fim do mundo como a bíblia, Nostradamus, etc. Mais uma vez o objetivo não era causar uma confusão doutrinária e sim simplesmente despertar uma identificação com o argumento do filme em mais pessoas do que simplesmente aquelas que acreditam na contagem do povo maia.
Como se não bastasse, todos os clichês dos filmes de Emmerich estão lá:o cachorro que se salva no último minuto, os monumentos mundiais (dentre eles o Cristo redentor) que são destruídos, os líderes mundiais inescrupulosos e um sem-número de piadas impagáveis.
Nada se pode levar à sério em 2012. É apenas entretenimento simples, passa-tempo vazio (e não perca muito tempo com esse tipo de entretenimento). Não se deve dar importância a itens como este, nem para dizer que eles têm algo de útil a ensinar (a não ser por analogia, metáfora e com o uso de muita criatividade e bom senso), nem para dizer que eles, por si sós, têm algum poder ou intenção destrutiva (da cultura, do bom senso, da intelectualidade ou da espiritualidade).
É claro que o mau uso do filme ou mesmo a dedicação em excesso a assistir filmes como este sempre poderá trazer prejuízo a quem quer que seja, mas achar que há algo mais do que um blockbuster em 2012 é tão prejudicial quanto encher a mente de diversão vazia.
É como dito em Oséias 4:6: “o meu povo peca por falta de conhecimento”. Desde então, faço minhas as palavras do Pastor Rodrigo Silva em uma de suas palestras sobre o Código Da Vinci: “Se aparecer outro livro ou filme questionando os conceitos bíblicos sem nenhuma propriedade e vocês derem crédito, a responsabilidade não é mais minha.”
Abração,
Ângelo Bernardes